
O livro Porto - Naçom de Falares (ed. Âncora) não explica apenas o que é um cimbalino, um molete ou um quartilho, mas também o que significa alheira com bigodes ou cenoura cabeluda, dar corda aos vitorinos ou bater no Siska, ser um dono da estação de S. Bento ou uma foguete estoireiro, andar em mangas de cabelo ou ter boca à Neca Rafael. "Ao longo dos anos", explica-se no preâmbulo, "ao andarilhar pela urbe e zonas arrabaldinas, o autor foi registando na memória, em papelinhos enrolados na algibeira, num guardanapo de papel surripiado no café, os termos mais triviais dos tripeiros."
Bastava ficarmos a perceber o que é estar armado em Zé de Sousa ou quem é que cheira a Custódio, o que significa escada de abrir ou levar um bilhete para já se justificar esta obra. Mas ainda ficamos a saber quem foi o Duque e quem é o Manuel do Laço, porque ficaram conhecidos o Antoninho da Reboleira e o Basílio de Sousa Noites, a D. Carmén das Almas e a Madalena do Bonjardim, o Carlinhos da Sé e o Toninho dos Pensos, o Feijardo e o Frita Lêndeas, o Chico e o Leão do Palácio, a Mamuda e a Micas-da-Boa, o Mãos de Ferro e o Homem do Sobretudo Amarelo. Isso não interessa a ninguém? Ora, vai no Batalha. E, em jeito de remate de conversa, tim-tim, Carvalhosa!
Fernando Madail, Diário de Noticias, 03/07/2010
http://dn.sapo.pt/gente/interior.aspx?content_id=1609327

http://cslivraria.blogspot.com/2010/07/porto-nacom-de-falares.html
Esta é a mais completa recolha de calões à moda do Porto até hoje reunida em livro. São 1.735 os vocábulos que corporizam o admirável quanto prodigioso falar do Burgo. Um património ainda vivo que anda nas bocas do mundo, contagiando mesmo o mais incensado a pecaminosas faladuras. Porto - Naçom de Falares é considerado um acto de rebeldia contra o cosmopolitismo falsamente progressista e um assomo de autenticidade.
Porto Naçom de Falares - Alfredo Mendes / Edição: Âncora Editora
http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=8146&idselect=297&idCanal=297&p=0
Segundo o escritor e investigador Hélder Pacheco, que assina o prefácio, o livro de Alfredo Mendes é habitado por falares bairristas e, nalguns casos, regionais, que representam “a essência da identidade, a personificação da diversidade, a riqueza lexical e a própria estrutura sintáctica da língua portuguesa”.
Os linguajares recolhidos neste trabalho “pressupõem, antes do mais, memória. E, depois, informação obtida a partir das fontes onde se acomodam as variedades locais de um idioma: ouvindo as bibliotecas vivas com mais de oitenta anos ou perscrutando os escritores oito e novecentistas que, no seu tempo, registaram alguns dos termos constantes deste inventário”, ainda de acordo com o prefaciador.
A obra de Alfredo Mendes, jornalista desde 1972, inclui igualmente um subcapítulo com algumas bem conhecidas expressões e locais da cidade do Porto, e uma dezena de histórias testemunhadas pelo próprio, onde a espontaneidade do tipicismo fala mais alto.
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