É natural que a curiosidade suscitada por temas de algum modo relacionados com a Astronomia, divulgados por jornais, livros e mesmo programas escolares, desperte a vontade de adquirir um pequeno instrumento de observação e aprender a olhar o céu. No entanto, se o leitor se encontra nessa fase, prepare-se para enfrentar algumas dificuldades, próprias de qualquer aventura que se inicia. É que o número de obstáculos a ultrapassar é razoável, embora -- como verá -- todos eles sejam de fácil resolução: basta ter alguma paciência, pois, com o tempo, tudo se resolverá, de forma lenta mas suave. De resto, essa é uma das muitas virtudes da prática da Astronomia: o convite à calma, à paciência... à humildade!
Frequentemente se ouve a exclamação: «Às vezes estou em locais escuros, tenho curiosidade em olhar para o céu, mas aquilo é uma grande confusão.» Pois bem, o conselho mais razoável será: tenha calma, pegue num simples mapa do céu com algumas indicações sobre a sua utilização -- por exemplo, «O Pequeno Guia do Céu» ou «Carta Celeste», da Gradiva Publicações -- e comece por olhar o céu a partir de um lugar com alguma iluminação, para que o número de estrelas visíveis não seja muito grande, diminuindo assim a «confusão». Mas não se limite a seguir os «desenhos» e as ligações de estrelas propostas na bibliografia de que dispuser -- invente coisas na esfera celeste, imagine que determinadas estrelas «ligadas» de certa forma lhe parecem um garfo, um cogumelo, um gato ou uma salsicha. Tentando depois identificar tais estrelas com os desenhos vulgarmente publicados, irá percebendo quão fértil era a imaginação dos antigos para «verem», por exemplo, um Leão, uma Balança ou, mais difícil ainda, um Carneiro, desenhados no céu. Aos poucos, ir-se-á habituando a localizar Andrómeda, Sagitário ou Cefeu, apenas à custa de três ou quatro estrelas da região do céu respectiva, já sem pensar se elas dão ou não alguma sugestão da figura imaginada pelos nossos antepassados.
Após a utilização de um modesto binóculo, é natural que deseje saber o que são determinados «amontoados» de estrelas ou certas «nuvens», o que obrigará a recorrer a bibliografia um pouco diferente da anteriormente referida. Poderá então encontrar cerca de uma dúzia de livros -- em português -- distribuídos por várias editoras, em particular a Verbo, a Dinalivro, a Plátano e a Gradiva. Das duas últimas destacam-se «Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas» e «Guia Prático de Astronomia», respectivamente, obras que constituem também preciosos auxiliares para quem se disponha a adquirir e utilizar telescópios, ou mesmo a fotografar alguns astros.
Outra preocupação será a escolha de um telescópio! É que, para além do preço, há que ter em conta a qualidade e até o espaço ocupado. Para isso convém -- uma vez mais -- ter alguma paciência e trocar impressões com utilizadores já com experiência. Uma possibilidade será contactar a Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores (APAA) -- Rua Alexandre Herculano, 57 - 4º Dt (Lisboa), às sextas-feiras à noite. Apesar de algumas naturais limitações, a APAA -- cujas instalações acabam de ser melhoradas -- é composta por elementos com conhecimentos diferenciados, a ponto de ser possível obter algum apoio em qualquer área de observação que cada um pretender iniciar ou aprofundar.
Quanto a equipamentos, será conveniente adquiri-los em locais onde, para além de indicações indispensáveis à iniciação, seja possível obter posteriormente informação sobre acessórios, técnicas de observação e captação de imagens, ou mesmo conselhos quanto à manutenção dos instrumentos adquiridos. Por exemplo, o Museu de Ciência -- Rua da Escola Politécnica, nº 56 (Lisboa) -- possui uma loja onde tais contactos e apoios podem ser obtidos, particularmente no que se refere a equipamento para fotografia astronómica e aos telescópios de melhor relação preço/qualidade actualmente disponíveis em Portugal. Nomeadamente os E-110 (78 contos), os E-110 M (150 contos) e os E -150 M (260 contos) -- apesar da (estranha) grande diferença de preços (provavelmente resultante de serem diferentes os «canais» de importação -- Tecnodidáctica e Transfoto) e de alguns reparos à qualidade do porta-oculares --, encontram-se já distribuídos por quase todo o país, tendo muitos dos seus possuidores adquirido as noções básicas da respectiva operação em acções que regularmente decorrem naquele museu.
Máximo Ferreira / PUBLICO-1995/07/11-116
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