A voz da Voxx
[Verdadeiro homem dos sete ofícios, Miguel Bacelar tornou-se popular com a pronúncia tripeira dos «jingles» da Rádio Voxx, mas não larga o futebol e a animação nocturna]
«Voxx: as audiências não mentem; Voxx, um megafenómeno de impopularidade»; «Voxx: uma rádio com inbeja»; «Voxx: emissora caótica portuguesa»; «Voxx: não confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre-de-obras».
Estes são alguns dos muitos «jingles» da Voxx, a mais alternativa de todas as rádios portuguesas. Se o seu conteúdo já chama a atenção, a curiosidade aumenta quando lhe é associado um forte e cerrado sotaque do Porto. Miguel Bacelar é a «Boz da Boxx» e é, cada vez menos, um fenómeno de impopularidade.
Este portuense identifica-se com todos os «jingles» que lê e que são emitidos seis vezes por hora, 24 horas por dia, na rádio que tem programas com nomes como «Refogado e hortelã», «O homem que mordeu o homem que mordeu o cão», «Os pedreiros levantam-se às sete», «Bacalhau com batatas e grelinhos da horta» e o mais conhecido de todos, «A amante do gerente comercial». Aos 41 anos, além do seu trabalho na Voxx, Miguel Bacelar é Hospitality Coordinator («Hoco») da UEFA e relações públicas da discoteca Mau Mau, no Porto.
(...)
Acha que não sabe representar mas já teve curtas passagens pela televisão e pelo cinema, nomeadamente alguns papéis menores em séries e filmes portugueses, de onde se destaca a obra de Manoel de Oliveira "Inquietudes". E é na televisão que se prepara para uma nova aventura: vai integrar o painel do programa da SIC «Noites Marcianas», onde abordará, todas as sextas-feiras, temas relacionados com o que se vai passando nos espaços de animação das noites portuguesas.
Já na Rádio, «tudo começou com um projecto da Rádio Energia a convite do Miguel Quintão e do Nuno Santos, que me desafiaram para dar voz aquela estação. Só que tudo se dissolveu antes de eu começar e nada se chegou a concretizar. Mas a ideia ficou», contou ele. Bacelar participou várias vezes no programa «Copo a Copo», da Antena 3 e, embora não se considere um profissional da Rádio, não ficou surpreendido quando o seu amigo Ricardo Casimiro o convidou para dar voz à Voxx (frequência de 91.6, em Lisboa, e de 90.0, no Porto), que ainda só emitia em Lisboa. Apesar de os textos serem feitos pelo director da estação, Ricardo Casimiro, a leitura e a interpretação estão a cargo de Miguel Bacelar, que também dá ideias para alguns «jingles». «O sotaque, naturalmente exagerado, serviu para marcar a diferença, para chamar a atenção. Se fosse um sotaque lisboeta, caia logo no esquecimento», comenta.
Todavia, nenhum deles tinha a noção da dimensão que aquilo, que a princípio não passava de uma brincadeira feita num só estúdio com a ajuda de um computador, iria atingir. «Nenhum de nós tinha noção da dimensão da coisa. Só para se ter uma ideia, comecei por gravar um 'jingle' de dois em dois meses e, agora, a cada quatro ou cinco dias gravo alguns 20!», diz o locutor. E acrescenta que «a brincar a brincar vamos dizendo algumas verdades e não é por acaso que a Voxx tem tanta audiência e tanta gente a incentivar-nos, tanto por fax como por 'e-mail'».
Sobre as grandes audiências que a sua estação favorita já conquistou, Miguel Bacelar acha que o humor, a liberdade criativa e o facto de não terem «play list» são os grandes factores para o crescimento da rádio, hoje já com três estúdios. Quanto ao papel da concorrência, fala com um humor sarcástico sobre os vizinhos do primeiro andar, a Rádio Comercial: «Agora já somos uma Rádio a sério e os pintas da concorrência, que são os mais ouvidos no planeta, estarão sempre abaixo de nós, quanto mais não seja porque eles estão no primeiro piso e nós no segundo.» E acrescenta; «Mas respeitamos sempre os pisos inferiores. Eles acham que têm a melhor música de todas as estações, mas como achamos que há mais apeadeiros do que estações em Portugal, consideramos ter a melhor música de todos os apeadeiros.» Ou não se considerassem eles «a melhor rádio cá do prédio».
Para este empresário nocturno, a Voxx assume um tom crítico na sociedade de hoje. «O nosso próximo passo é institucionalizar o Partido do Agasalho. Já que há tanta gente a 'agasalhar' neste país, ou seja, a meter ao bolso, ao menos que se faça ordenadamente e com método. Por isso, propomos um sistema rotativo por ordem alfabética, o único modo de chegar a todos», diz com ironia.
Não recebe qualquer ordenado como locutor, «apesar da insistência do Ricardo», como faz questão de dizer. Só que os «jingles» fizeram-no famoso em «termos audíveis» em todo o país, e isso abriu-lhe outras portas. Da Voxx à publicidade radiofónica foi um instante e daí à televisão também não demorou muito. Ficou mais conhecido nas ruas mas ainda não é uma super-estrela. «Mesmo assim, um dia um senhor que tinha uma carro igual ao que eu publicitava no anúncio fez questão de me pagar um café. Fiquei embaraçado mas tive que aceitar», conta a voz da «única rádio que, sendo serviço público, não vive à pala do orçamento».
Miguel Bacelar tem uma estreita relação com o Porto. «Adoro a minha cidade e tenho pena de não poder participar nela de modo mais activo. Tenho muitas ideias mas não sei a quem as transmitir», conta. Mesmo confessando-se tripeiro de gema, o «Hoco» da UEFA diz gostar muito de Lisboa, cidade onde viveu dois anos quando foi comissário de bordo. Opinião menos favorável tem da Capital Europeia da Cultura, pois «foi tudo feito fora do 'timing' certo e houve pouca publicação. Além disso, tudo o que é feito fora de Lisboa sofre atrasos devido à grande centralização». Talvez por isso já tenha em mente um futuro «jingle» para a rádio e que diz, entre uma gargalhada: «Voxx: Tudo o que é projecto do Norte tem enguiços».
Os poucos tempos livres que tem gosta de os passar junto ao mar. Adora praia e dá-lhe especial gosto ir à Comporta. Afinal «um gajo bronzeado é meio caminho andado...
Texto de Pedro Neves / Expresso, 01/09/2001
[Verdadeiro homem dos sete ofícios, Miguel Bacelar tornou-se popular com a pronúncia tripeira dos «jingles» da Rádio Voxx, mas não larga o futebol e a animação nocturna]
«Voxx: as audiências não mentem; Voxx, um megafenómeno de impopularidade»; «Voxx: uma rádio com inbeja»; «Voxx: emissora caótica portuguesa»; «Voxx: não confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre-de-obras».
Estes são alguns dos muitos «jingles» da Voxx, a mais alternativa de todas as rádios portuguesas. Se o seu conteúdo já chama a atenção, a curiosidade aumenta quando lhe é associado um forte e cerrado sotaque do Porto. Miguel Bacelar é a «Boz da Boxx» e é, cada vez menos, um fenómeno de impopularidade.
Este portuense identifica-se com todos os «jingles» que lê e que são emitidos seis vezes por hora, 24 horas por dia, na rádio que tem programas com nomes como «Refogado e hortelã», «O homem que mordeu o homem que mordeu o cão», «Os pedreiros levantam-se às sete», «Bacalhau com batatas e grelinhos da horta» e o mais conhecido de todos, «A amante do gerente comercial». Aos 41 anos, além do seu trabalho na Voxx, Miguel Bacelar é Hospitality Coordinator («Hoco») da UEFA e relações públicas da discoteca Mau Mau, no Porto.
(...)
Acha que não sabe representar mas já teve curtas passagens pela televisão e pelo cinema, nomeadamente alguns papéis menores em séries e filmes portugueses, de onde se destaca a obra de Manoel de Oliveira "Inquietudes". E é na televisão que se prepara para uma nova aventura: vai integrar o painel do programa da SIC «Noites Marcianas», onde abordará, todas as sextas-feiras, temas relacionados com o que se vai passando nos espaços de animação das noites portuguesas.
Já na Rádio, «tudo começou com um projecto da Rádio Energia a convite do Miguel Quintão e do Nuno Santos, que me desafiaram para dar voz aquela estação. Só que tudo se dissolveu antes de eu começar e nada se chegou a concretizar. Mas a ideia ficou», contou ele. Bacelar participou várias vezes no programa «Copo a Copo», da Antena 3 e, embora não se considere um profissional da Rádio, não ficou surpreendido quando o seu amigo Ricardo Casimiro o convidou para dar voz à Voxx (frequência de 91.6, em Lisboa, e de 90.0, no Porto), que ainda só emitia em Lisboa. Apesar de os textos serem feitos pelo director da estação, Ricardo Casimiro, a leitura e a interpretação estão a cargo de Miguel Bacelar, que também dá ideias para alguns «jingles». «O sotaque, naturalmente exagerado, serviu para marcar a diferença, para chamar a atenção. Se fosse um sotaque lisboeta, caia logo no esquecimento», comenta.
Todavia, nenhum deles tinha a noção da dimensão que aquilo, que a princípio não passava de uma brincadeira feita num só estúdio com a ajuda de um computador, iria atingir. «Nenhum de nós tinha noção da dimensão da coisa. Só para se ter uma ideia, comecei por gravar um 'jingle' de dois em dois meses e, agora, a cada quatro ou cinco dias gravo alguns 20!», diz o locutor. E acrescenta que «a brincar a brincar vamos dizendo algumas verdades e não é por acaso que a Voxx tem tanta audiência e tanta gente a incentivar-nos, tanto por fax como por 'e-mail'».
Sobre as grandes audiências que a sua estação favorita já conquistou, Miguel Bacelar acha que o humor, a liberdade criativa e o facto de não terem «play list» são os grandes factores para o crescimento da rádio, hoje já com três estúdios. Quanto ao papel da concorrência, fala com um humor sarcástico sobre os vizinhos do primeiro andar, a Rádio Comercial: «Agora já somos uma Rádio a sério e os pintas da concorrência, que são os mais ouvidos no planeta, estarão sempre abaixo de nós, quanto mais não seja porque eles estão no primeiro piso e nós no segundo.» E acrescenta; «Mas respeitamos sempre os pisos inferiores. Eles acham que têm a melhor música de todas as estações, mas como achamos que há mais apeadeiros do que estações em Portugal, consideramos ter a melhor música de todos os apeadeiros.» Ou não se considerassem eles «a melhor rádio cá do prédio».
Para este empresário nocturno, a Voxx assume um tom crítico na sociedade de hoje. «O nosso próximo passo é institucionalizar o Partido do Agasalho. Já que há tanta gente a 'agasalhar' neste país, ou seja, a meter ao bolso, ao menos que se faça ordenadamente e com método. Por isso, propomos um sistema rotativo por ordem alfabética, o único modo de chegar a todos», diz com ironia.
Não recebe qualquer ordenado como locutor, «apesar da insistência do Ricardo», como faz questão de dizer. Só que os «jingles» fizeram-no famoso em «termos audíveis» em todo o país, e isso abriu-lhe outras portas. Da Voxx à publicidade radiofónica foi um instante e daí à televisão também não demorou muito. Ficou mais conhecido nas ruas mas ainda não é uma super-estrela. «Mesmo assim, um dia um senhor que tinha uma carro igual ao que eu publicitava no anúncio fez questão de me pagar um café. Fiquei embaraçado mas tive que aceitar», conta a voz da «única rádio que, sendo serviço público, não vive à pala do orçamento».
Miguel Bacelar tem uma estreita relação com o Porto. «Adoro a minha cidade e tenho pena de não poder participar nela de modo mais activo. Tenho muitas ideias mas não sei a quem as transmitir», conta. Mesmo confessando-se tripeiro de gema, o «Hoco» da UEFA diz gostar muito de Lisboa, cidade onde viveu dois anos quando foi comissário de bordo. Opinião menos favorável tem da Capital Europeia da Cultura, pois «foi tudo feito fora do 'timing' certo e houve pouca publicação. Além disso, tudo o que é feito fora de Lisboa sofre atrasos devido à grande centralização». Talvez por isso já tenha em mente um futuro «jingle» para a rádio e que diz, entre uma gargalhada: «Voxx: Tudo o que é projecto do Norte tem enguiços».
Os poucos tempos livres que tem gosta de os passar junto ao mar. Adora praia e dá-lhe especial gosto ir à Comporta. Afinal «um gajo bronzeado é meio caminho andado...
Texto de Pedro Neves / Expresso, 01/09/2001
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