Portugal é mais que um jardim à beira mar plantado: é um dos lugares mais bonitos da Europa. “Jardim” cheira a mofo, prémio piroso de consolação. Tem origem suspeita, como “brandos costumes”. A nossa força dispensa tais anedotas.
De Norte a Sul, Portugal desdobra uma beleza única. Do Minho florido, ao Algarve “mediterrânico”, o Marão e a Serra da Estrela, as Beiras rudes, a lezíria, a planície alentejana, mar de campos, o litoral atlântico a desafiar o infinito. Aí está a monumentalidade portuguesa, que a de castelos e catedrais escasseia.
Certamente há a Batalha, há Alcobaça, Braga, a Sé da Guarda. As capelinhas que sobrevivem, românicas ou de branco imaculado, tudo envolvido em paisagem encantadora. Milagre que ainda sobrevive. Até quando? Porque é questão de sobrevivência. Todos os dias mais um pedaço de Portugal desaparece.
Se leres “Agosto Azul”, de Manuel Teixeira-Gomes, ficas pasmado. “Como era bonito o Algarve!”, exclamarás. Sabemos que deram cabo dele. Tal qual adulteram, ao milímetro, o país. É ganância. Insensibilidade de labregos. É o assassínio através do turismo.
Mas o que atrai o viajante é o deslumbrante perfil da terra: a diversidade, a pureza das linhas, a majestade dos horizontes. Não são os “resort”, nem os campos de golfe, nem os hotéis encavalados no mais requintado pato-bravismo de betão. Em vez, mata-se a nossa identidade!
Passei o Natal em Porto Covo - na fabulosa costa alentejana -, e constatei: o avanço da besta não pára. Multiplicam as construções anacrónicas, destroem a paisagem. E, no desaforo, deixam as estradas degradarem-se. Doeu-me a alma. Não progredimos: enforcamo-nos.
Manuel Poppe
Publicado na Página de Cultura do Jornal de Notícias de 9 de Janeiro de 2011
http://sobreorisco.blogspot.com/2011/01/o-perfil-portugues.html
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