sábado, 9 de abril de 2011

Mário Dujisin


Mário Dujisin

Nacionalidade: chilena. Idade: 50 anos. Trabalha em Portugal desde 1990, Coordenador da rede em língua portuguesa da Agência IPS;(Inter Press Service). Presidente da Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal.

Viviam-se os tempos quentes pós-revolução 25 de Abril quando Mário Dujisin foi enviado pela IPS para Portugal. Ficou cá até 1979, ano em que foi destacado para Nova Iorque. Equador e Itália seguiram-se como destinos. Em Roma, onde funciona a sede da agência, alcança a chefia de redacção, mas em 1990 parte para o reencontro com a mistura de culturas que tanto aprecia em Portugal: «Foi uma história de namoro. É um pouco como aquela canção do Carlos do Carmo que diz "Lisboa menina e moça, cidade mulher da minha vida". Gostei muito de Portugal e acho que é, no bom sentido, o único país mestiço da Europa: cultural, Gastronómica e arquitectonicamente. Sinto-me bem aqui por isso. Portugal foi o único país que colonizou e foi colonizado. Isso é muito positivo».

O país que entretanto deixara em 1979 modificou-se consideravelmente, mas a essência das coisas que aqui aprecia permaneceram inalteradas: «É verdade que agora há aqueles rapazes das avenidas novas que andam a impressionar as raparigas com telefones celulares, mas ainda se conservam coisas que dificilmente mudarão. Há certos bairros de Lisboa onde não irá ser muito fácil convencer um português que, por estar na União Europeia, terá de passar a comer em snack's de fast food».

Os seus gestos são nervosos, típico das pessoas que falam de forma empolgada. Mário Dujisin é um grande conversador e preserva o sotaque típico de quem fala o castelhano de latitudes latino-americanas: uma situação que nunca constituiu problema: «Nunca em Portugal me disseram "vai para a tua terra", coisa que já ouvi em vários países do Mundo. Ao contrário, já aconteceram coisas absolutamente surrealistas em que somos nós a defender Portugal junto de portugueses que estão sempre a atacar o seu país e a desejarem ir-se embora».

Olhar atento lançou este jornalista chileno sobre a evolução da Imprensa portuguesa, que diz ter passado de reprodutora de comunicados do salazarismo e marcelismo para uma Imprensa absolutamente revolucionária ou absolutamente anti-revolucionária nos primeiros anos que se seguiram à revolução. Hoje, vê o panorama substancialmente modificado: «Quando regressei, dez anos mais tarde, encontrei uma diferença imensa. Só que os colegas da minha geração — e penso que eles vão ficar chateados comigo por dizer isto — mantiveram muitos vícios... vícios esses que só serão superados quando forem todos para a reforma. Só depois é que existirá um jornalismo inteiramente profissional. Em Portugal, ainda é difícil distinguir as noticias das opiniões. Há ainda pouca substância informativa».

Outro defeito que aponta aos jornalistas portugueses é o de se permitirem informar criticando e considera isso particularmente notório em televisão: «O jornalista audiovisual em Portugal é um inimigo dos entrevistados. Não quero dizer nomes, mas acho que uma coisa é interromper o político para precisar uma ideia e outra é não o deixar falar. Quando aqui se acaba de ver um debate político na televisão ficamos com a ideia muito clara do que defende o jornalista, mas não fica nada claro o que pensam os políticos. Existe mesmo uma agressão facial para com os entrevistados, que é uma coisa completamente antiprofissional». Dujisin vai ao ponto de dizer que o «jornalista de TV em Portugal está muito interessado em afirmar-se como uma estrela do jornalismo e está-se nas tintas para o entrevistado e para o público, o que é grave. Isso pode ser um espectáculo, mas não é, seguramente, jornalismo.

(...)


artigo Vidas de Press - jornalistas estrangeiros em Portugal
Texto de Pedro Teixeira/Fotografias de João Silveira Ramos
Notícias Magazine de 02/06/1996

Sem comentários:

Enviar um comentário