quarta-feira, 30 de março de 2011

Toponímia bizarra

À medida que o País se vai tornando mais cinzento, perdendo o humor e as pessoas cultivando o horror ao que chamam ridículo, muitas terras requereram a mudança de nome. Mas a edicção de 1981 do Novo Dicionário Corográfico de Portugal, da Editorial Domingos Barreira, refere ainda muitas que são obras-primas e dignas de registo.

Localidades que começam o seu nome por «Aldeia», uma por certo não poderá escapar aos mais machistas: Aldeia das Mulheres (Carvalhal). Outras há com nomes de bichos: Aldeia dos Grilos (Borba), que faz lembrar outra relacionada com o reino animal, a Aldeia dos Porcos (Sesimbra). Aldeias com nomes de se lhes tirar o chapéu temos ainda a dos Gagos (Ferreira do Zêzere) dos Ruins (Ferreira do Alentejo), dos Redondos (Pombal) e das Gorduras (Orada).

Mexeram-se bem, para serem rebaptizados os naturais da hoje aldeia de Nossa Senhora da Glória, na freguesia de Carvoeira, Torres Vedras, que repudiaram o anterior topónimo: Panasqueira. Mas outros mais descontraídos mantiveram o nome, em terras que se encontram em Avis, Alcobaça, Monchique, Oleiros, Ponte de Sor e Faro.

Aldeias de Além contamos quase três dezenas, mas Além do Banho, em Marco de Canaveses, há uma. Bacalhau Velho e Bacalhau Novo encontram-se nas imediações de Benfica do Ribatejo. Por Bêbeda de Baixo e Bêbeda de Cima, nos arredores de Sines, se prosseguirá o caminho que deverá levar até Arrota, em Sever do Vouga.

Alentejo é nome de três aldeias, mas nenhuma delas na província do mesmo nome. Encontram-se em Oliveira do Hospital, Soalhães e Marco de Canaveses. Com respeito a cabeças, há as das mais variadas espécies: é a Cabeça Boa, Calva, de Boi, de Cabra, de Cão, da Galinha, de Porca, de Águia. Após tanta cabeça, uma pessoa só pode ir para Cabeça Perdida, no concelho de Portimão. Ainda no reino animal, ficaram os nomes de Cabra (Gouveia), Cabrito (Abrantes), que deve ter qualquer coisa a ver com Caganita (Cercal), e Camelo, em São Facundo, Guimarães. Há ainda a considerar a terra de Cães e de Cágado. Por outro lado, em termos de «Casais» temos o Bom, o Calado, e o Casal da Barba Pouca, do Esborrachado e ainda Pocilgas e Casinhas.

Os critérios para ir em busca de terras com nomes fora de comum são muitos. Se formos letra a letra pelo Dicionário Corografico. Temos ainda na letra «C» o Coito e a Cor de Cabra. No «E» ressalta o lugar de Eidos (Mesão Frio). Para os mais maldosos e que gostam de fazer ligações perigosas, ficam aqui a Bufarda, no caminho de Peniche, e o Bufalhão (Arganil). No «F» a Filha Boa, Focinho de Cão e a Fonte do Bebe e Vai-Te para se seguir em frente para a Gaita e as Gorduchas.

Em terras de montes como locais de habitação, como no Alentejo, ficam alguns nomes desconcertantes como os Montes da Gorda, das Pulgas, das Moças, das Viúvas, dos Felizes e até dos Parvos.

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Reportagem "Corografia Insólita", da autoria de Humberto Vasconcelos, publicada no Diário de Notícias de 01/12/1996

(A totalidades dos artigos dessa reportagem estão publicadas neste blog em 5 mensagens de Março de 2011)



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