Terra de grandes barrigas,
Onde há tanta gente gorda,
Às sopas chamam açorda
E à açorda chamam-lhe migas;
Às razões chamam cantigas,
Milhaduras são gorjetas,
Maleitas dizem maletas,
Em vez de encostas, chapadas,
Em vez de açoites, nalgadas
E as bolotas são boletas.
Continua:
Terra mole é atasquêro,
Ir embora é abalári,
Deitar fora é aventári,
Fita de couro é apero;
Vaso com planta é cravêro,
Carpinteiro é abegão,
A choupana é cabanão
E às hortas chamam hortejos
Os cestos são cabanejos
E ao trigo chama-se pão.
No resto de Portugáli
Ninguém diz palavras tais;
As terras baixas são vais
Monte de feno é frascáli
Vestir bem parece máli
À aveia chamam cevada
Ao bofetão orelhada
Alcofa grande é gorpelha
Égua lazã é vermelha
Poldra “isabel” é melada.
Quando um tipo está doente
Logo dizem que está morto.
A todo o vau chamam porto
Chamam gajo a toda a gente
Vestir safões é corrente
Por acaso é por adrego,
Ao saco chamam talego
E, até nas classes mais ricas
Ser janota é ser maricas
Ser beirão é ser galego.
Os porcos medem-se às varas,
O peixe vende-se aos quilos
E a gente pasma de ouvi-los
Usar maneiras tão raras;
Chamam relvas às searas
Às vezes, não sei porquê
E tratam por vomecê
Pessoas a quem venero;
“não quero” dizem “na quero”
“eu não sei” dizem “ê nã sê”!
Letra de J. De Vasconcelos e Sá
Rosa Branca - António Pinto Basto (1989)
DITOS DO ALENTEJO OU MESTRE ALENTEJANO (II)
Assim já cantei um dia
Pois no Alentejo nasci
Ali amei e sofri
E ao meu povo eu entendia
Pastel de grão é azevia
Massa frita é brinhol
Piolho cata-se ao sol
À lenha chamam molheta
O zangado diz punheta
Sapateiro usa serol
A frigideira é sartém
Uma tigela plangana
Mulher de graça é magana
Falar mal é coisa vã
Cama de molas divã
E quem dança está balhando
Chover pouco é muginando
A gasosa é um pirulito
Qualquer cão é um canito
Chorar baixo é chomingando
Ao leite chamam-lhe lête
Um bacio é um penico
Um desmaio é um fanico
Um canteiro é alegrete
O soutien é um colete
Do pão dur(o) fazem-se migas
São saias quaisquer cantigas
Grão cozido é gravançada
Qualquer pessoa é coitada
E as amantes são amigas
Emprestar é repassar
Mentiroso é trapacêro
Amolador é um gatêro
Ir a mondar é escardar
Chatear é amolar
Do pobre diz-se infeliz
A igreja é uma matriz
Cafeteira é choclatêra
Coisa torta é pernêra
E é o povo que assim diz
Um barril é um porrão
E a garagem é cochêra
Chouriço preto é cacholêra
Preguiçoso é lazerão
Homem do campo é ganhão
Chama-se fosso a um val
Almofariz é um gral
Sopas frias é gaspacho
Viver bem é ter um tacho [segundo a autora era VIVE BEM QUEM VIVEU MAL]
E assim fala Portugal
Entre Amigos - José Gonçalez (2003)
Nota: a música é o Fado Corrido nas duas versões. A segunda canção tem a participação de António Pinto Basto que canta a primeira e é neto do autor da letra da primeira das canções.
retirado do blog Um Bolíndri na Tarrafa
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