segunda-feira, 20 de junho de 2011

Populações vivem entre fronteiras

Já imaginou a confusão que é viver numa terra que pertence a duas ou três freguesias e a diferentes concelhos e distritos? É o que acontece em Sargento-Mor e em Santa Luzia, onde os problemas burocráticos são a maior dor de cabeça.

Fausto Fonseca nasceu e cresceu no concelho da Mealhada, distrito de Aveiro. Actualmente mora no concelho e distrito de Coimbra?na casa em frente à que nasceu e onde ainda vive a sua mãe, Guilhermina. ?Eu vivo na Mealhada e o meu filho em Coimbra. Mas ele vive do outro lado do passeio?, conta a mãe, entre risos.

A situação passa-se em Sargento-Mor. Um lado da estrada pertence à freguesia de Souselas, concelho e distrito de Coimbra. O outro à freguesia de Barcouço, concelho da Mealhada, distrito de Aveiro. ?No feriado municipal de Coimbra fechamos, e do outro lado as lojas estão abertas?, conta António Madeira, residente em Sargento-Mor, que trabalha num escritório na casa de Fausto. A nível de limpeza, explica, é uma confusão, ?porque um lado cabe à Câmara Municipal de Coimbra e o outro à da Mealhada?.

Mais à frente, em Santa Luzia, a complicação é maior. A localidade pertence às freguesias de Souselas (concelho de Coimbra), Barcouço e Casal Comba (ambas do concelho da Mealhada). ?Isto é grande para pertencer a três freguesias?, graceja Fernanda Simões, que trabalha na confeitaria Doce Fruta, pertencente a Barcouço. Em frente, Alberto Jorge, reformado, vive há 40 anos em Santa Luzia, do lado de Souselas, e entende a divisão como um problema a vários níveis. E dá o exemplo dos correios. ?Somos abastecidos pelo correio de Barcouço, e tive problemas com a Caixa de Aposentações, que queria despachar a reforma da minha mulher para Aveiro. No código postal tem de se pôr Barcouço, porque senão demora mais tempo?, conta.

O saneamento é outro problema, sendo que a rede só passa pelo outro lado da estrada, da responsabilidade da Câmara Municipal da Mealhada. ?Aqui não temos saneamento?, reclama. Mesmo o abastecimento de água só é uma realidade há cerca de uma década, quando fizeram a ligação da Mealhada, Carqueijo, Barcouço e Sargento-Mor. ?Estou no concelho de Coimbra e pago a água à Mealhada?, brinca Alberto Jorge.

Uns metros à frente da casa de Alberto está a Iberplanta, empresa especializada em arranjos florais, e que já pertence à freguesia de Casal Comba. “Estamos ao lado de Barcouço e pertencemos a uma freguesia que fica a sete ou oito quilómetros daqui”, critica Carlos Figueiredo, proprietário da empresa. Acrescenta nem sequer conhecer o presidente da Junta de Freguesia de Casal Comba. “Nem sei onde fica”, afirma.

O presidente da Junta de Freguesia de Souselas, João Pardal, entende que a divisão administrativa de Sargento-Mor e Santa Luzia ?não é saudável para ninguém?, e afirma procurar uma articulação melhor entre as autarquias de Coimbra e Mealhada. ?Já falámos com os presidentes da Câmara Municipal de Coimbra e da Junta de Freguesia de Barcouço, e já houve contactos com o autarca da Mealhada para uma reunião conjunta, de forma a responder às necessidades dos munícipes?, revela.

Delfim Martins, autarca de Barcouço, entende que toda a população da zona sofre. “Vamos trabalhando, cada um fazendo o que lhe compete”, assegura. Lembra ainda o caso da fonte de Sargento-Mor, que pertence a Barcouço, “mas que abastece toda a localidade, sem olharmos para o lado a que o estamos a fazer”.

O presidente da Junta de Freguesia de Casal Comba, Manuel Cardoso, congratula-se com o “óptimo relacionamento” com a congénere de Barcouço, “que tem tratado bem da parte que nos pertence. Os prejuízos e as contestações têm sido colmatados com estas boas relações”, defende.

João Pedro Campos, Jornal de Notícias, 07/09/2010

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