Autor brasileiro Carlos Lessa defende tese na obra "Os Lusíadas na aventura do Rio moderno"
O Rio de Janeiro é a maior cidade portuguesa no Mundo. Esta tese é defendida pelo professor brasileiro Carlos Lessa, que acaba de lançar a colectânea "Os Lusíadas na aventura do Rio moderno", um conjunto de 14 ensaios de vários autores sobre as marcas portuguesas no Rio de Janeiro.
Carlos Lessa, economista e recém-eleito reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz, em entrevista ao jornal brasileiro "Valor Econômico", que a herança portuguesa na cidade é maior do que se supõe.
Segundo ele, as marcas lusitanas no Rio vão muito além dos tempos coloniais. Podem ser encontradas na arquitectura, na comida, nos costumes e até nas claques de futebol _ há dois clubes lusos na cidade, o Vasco da Gama e a Portuguesa.
Para o autor, o Rio de Janeiro é "a maior cidade portuguesa no Mundo", referindo-se ao facto de não haver nenhuma outra no mundo lusófono com população tão grande, mais de 7,5 milhões.
imigrantes humildes
Lessa sustenta que a influência portuguesa encontra-se também na formação do operariado e do empresariado carioca, nas profissões liberais, nas organizações sociais, na música, literatura e no teatro.
"Pelo lado físico, encontramos bairros inteiros portugueses, ruas, vielas, edificações", observa o economista. "Mas, se olharmos o aspecto demográfico, o resultado é muito mais impressionante", acrescenta.
Segundo ele, em 1890, um ano após a proclamação da República do Brasil, os portugueses representavam 106 mil dos 520 mil habitantes da cidade, e 161 mil eram filhos de portugueses.
Para o autor, o português também é responsável pela mestiçagem no Rio de Janeiro. Lessa concorda com a tese do "lusotropicalismo" do sociólogo Gilberto Freyre. Contudo, considera que a mestiçagem ocorreu mais no século XX do que no XIX, em razão da escassez de
mulheres brancas.
"A grande maioria dos imigrantes era de portugueses humildes, que foram para o Rio na mesma época em que uma massa de italianos foi para São Paulo", diz ele.
"Durante o decadente século XIX português, eles vieram predominantemente para o Rio" e disputavam empregoS menores, diz Carlos Lessa. "O fluxo manteve-se até pelo menos 1950".
Entre 1890 e 1920, segundo ele, dos 24 líderes sindicais do país 24 eram italianos e 23 eram portugueses. Dos 556 operários expulsos do país entre 1907 e 1921, época das primeiras grandes greves, 181 eram portugueses, 121 italianos e 113 espanhóis.
Lessa acredita que, após a República, os brasileiros quiseram libertar-se da origem portuguesa, na época um país atrasado, e adoptaram a França como paradigma.
Jornal de Notícias, 2002
Sem comentários:
Enviar um comentário